Antonio Sousa-Uva
É quase regra que, na actualidade, um grande número de textos referentes à Saúde (e Segurança) do Trabalho coloquem o principal enfoque nos locais de trabalho, principalmente os textos oriundos de referências normativas. Até aos anos de 1970 ou 1980 a referência era quase exclusivamente feita à Medicina do Trabalho, datas a partir das quais se passou a dar muito mais destaque à pluri e transdisciplinaridade e se passou a falar mais em Saúde Ocupacional (1).
Essa "nova" perspectiva mantinha o foco no trabalhador, assumindo que para se obter eficácia na prevenção dos acidentes de trabalho e das doenças profissionais era necessário o concurso de diversas áreas científicas que não se esgotavam na Medicina do Trabalho.
Foram organismos das Nações Unidas que lideraram essa nova perspectiva, muito mais abrangente e, julga-se, com o propósito de não ser possível ter eficácia na prevenção dos riscos profissionais sem os conhecimentos e as metodologias, essencialmente, da Higiene do Trabalho (ou Higiene Industrial) e da Segurança do Trabalho que se dedicam, essencialmente, à prevenção ambiental desses riscos, respectivamente, de doença profissional e de acidente de trabalho (2).
Até então, portanto, o foco era a Medicina do Trabalho "clássica" a que sucedeu a Nova Saúde Ocupacional com a referida perspectiva pluri e transdisciplinar, a caminho da "Saúde do Trabalhador"(3).
Entretanto, os sectores de actividade económica sofriam uma grande revolução, migrando as preocupações das relações trabalho/saúde para o sector terciário de actividade económica que passaram a empregar 2/3 a 3/4 da população activa e começou a "emergir" a preocupação dos riscos denominados psicossociais que "arredaram" a atenção dada aos factores de risco de natureza física e química até então o foco de atenção (1). Estes factores de risco, frequentemente confundidos com os riscos psicossociais, passaram a ser perspectivados, eminentemente, nas características individuais dos trabalhadores, como se o clima organizacional e outros factores organizacionais não tivessem qualquer preponderância na etiologia de potenciais efeitos para a saúde mental e física dos trabalhadores.
Bibliografia
- Santos CS, Sousa-Uva A. Saúde e Segurança do Trabalho: notas historiográficas com futuro. Lisboa: ACT, 2009, 231 pp.
- Sousa-Uva, A. Trabalhadores saudáveis e seguros em locais de trabalho saudáveis e seguros, Lisboa: Petrica Editores, 2010
- Mendes R*, Dias EC. Da Medicina do Trabalho à Saúde do Trabalhador. Rev. Saúde Pública. 1991;25(5):341-349.
- Sousa-Uva A. Saúde Ocupacional: o trabalho ou o trabalhador com principal alvo da sua ação? Lisboa: Petrica, 2019. 166 p., ISBN 978-989-99550-8-0.