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terça-feira, 22 de novembro de 2022

Medicina do Trabalho, Saúde Ocupacional e Assédio moral no Local de Trabalho

 

 Antonio Sousa-Uva

 

O conceito de “doença ligada ao trabalho” engloba todas as formas em que o trabalho pode interferir na saúde, em termos de efeitos adversos, independentemente da sua influência se situar na etiologia, na evolução, no desfecho ou no agravamento das doenças.

As questões relacionadas com os aspectos de natureza psicossocial existentes nas nossas organizações e agora intituladas “emergentes”, e nomeadamente nas empresas, coloca hoje desafios de enorme complexidade aos médicos do trabalho e a outros profissionais de saúde ocupacional.

Têm sido usadas inúmeras formas de fazer referência ao acto de provocar uma violência psicológica no trabalho, de forma repetida e sistemática, com o objectivo de humilhar, isolar e desacreditar um trabalhador, a maioria das quais em língua inglesa: (i) bulling; (ii) mobbing; (iii) moral harassment; (iv) psychological violence ou, por exemplo, (v) psychological harassment. Para além das diferenças que podem ser evocadas em relação a qualquer uma das designações, o assédio moral caracteriza-se, entre outros e no essencial, por de forma reiterada:


  1.     impedir o trabalhador de se exprimir;
  2.     isolar o trabalhador;
  3.     desconsiderar o trabalhador em presença de colegas de trabalho
  4.     desacreditar o trabalhador no seu trabalho;
  5.     comprometer a saúde do trabalhador;
  6.     ………………………………………………………………

 

O trabalhador assediado, para que o assédio moral produza efeito, inicia uma cascata de acontecimentos que, no essencial, provocam perda de autoestima e de autoconfiança que podem levar a níveis impulsionadores, por exemplo, de grandes graus de ansiedade e até a eventuais comportamentos de adição.

 

As consequências negativas para a saúde do assédio moral podem envolver sintomatologia somática e psicológica. Para além de serem frequentes as cefaleias, as alterações gastro-intestinais e as repercussões sobre o aparelho cardio-vascular os sintomas de atingimento da saúde mental são igualmente muito frequentes e vão desde as alterações do sono, a dificuldade de concentração e a perda de confiança até à ocorrência de pensamentos suicidários, agressividade e sintomas paranóides, depressivos e obsessivos.

Apesar da extrema complexidade de qualquer situação concreta, no assédio moral existe sempre um determinado contexto (profissional), um assediador e um assediado. O médico do trabalho, no âmbito da sua actividade na prevenção dos riscos profissionais (que deve incluir também a colaboração na prevenção dessas situações de “violência psicológica) pode (e deve) ser um potencial “apoio” para o assediado se a sua colaboração em acções de prevenção não tiver sido eficaz na sua prevenção.

A sua resposta é, no entanto, ainda mais transdisciplinar e mais dependente da respectiva cultura organizacional onde se deve situar a mais importante (e principal) resposta a tal tipo de situações.


Nota: Publicado, inicialmente, em Healthnews.

 

domingo, 6 de novembro de 2022

A Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho faz 57 anos

                                                       

 


                                                         Antonio Sousa-Uva (sócio honorário da SPMT)

 

A Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho (SPMT) completará no final do mês (30 de novembro), 57 anos de existência. Nascida pela mão de um pouco mais de uma dezena de médicos, nos anos de 1960, mantém-se na vanguarda do estudo e da investigação das relações entre o trabalho e a saúde (ou a doença).

 

Como se referia no anterior aniversário, deve-se recordar que as sociedades científicas não são sociedades de defesa das condições de exercício de uma qualquer actividade mas, acima de tudo, espaços isentos e imparciais em que tudo se faz, no caso da SPMT, para perseguir um mais robusto conhecimento das interdependências entre o trabalho e a saúde(doença) com o objectivo de proteger e promover a saúde de quem trabalha e contribuir para a manutenção da sua capacidade de trabalho. A sua vocação é pois semelhante à das Universidades, com actividades essencialmente académicas, o que não anula outras preocupações relacionadas com o seu exercício.

  

Oxalá os médicos do trabalho mantenham uma SPMT com uma vida longa para cumprir as suas razões fundacionais e, dessa forma, contribuirem para melhores condições de trabalho na perspectiva da saúde (e da segurança) do trabalho indispensáveis em qualquer posto ou situação de trabalho. É isso que todos esperamos!


06 de novembro de 2022

 

Bibliografia