Antonio Sousa-Uva
O
conceito de “doença ligada ao trabalho” engloba todas as formas em que o
trabalho pode interferir na saúde,
em termos de efeitos adversos,
independentemente da sua influência se situar na etiologia, na evolução,
no desfecho ou no agravamento das doenças.
As
questões relacionadas com os aspectos de natureza psicossocial existentes nas nossas
organizações e agora intituladas “emergentes”, e nomeadamente nas empresas, coloca hoje desafios de enorme complexidade aos médicos
do trabalho e a outros profissionais de saúde ocupacional.
Têm sido usadas inúmeras
formas de fazer referência ao acto de provocar uma violência psicológica no
trabalho, de forma repetida e
sistemática, com o objectivo de
humilhar, isolar e desacreditar um
trabalhador, a maioria das quais em
língua inglesa: (i) bulling; (ii) mobbing; (iii) moral harassment; (iv) psychological violence ou,
por exemplo, (v) psychological
harassment. Para além das diferenças que podem ser evocadas em relação a
qualquer uma das designações, o
assédio moral caracteriza-se, entre
outros e no essencial, por de forma
reiterada:
- impedir o trabalhador de
se exprimir;
- isolar o trabalhador;
- desconsiderar o
trabalhador em presença de colegas de trabalho
- desacreditar o
trabalhador no seu trabalho;
- comprometer a saúde do
trabalhador;
- ………………………………………………………………
O trabalhador assediado,
para que o assédio moral produza efeito,
inicia uma cascata de acontecimentos que,
no essencial, provocam perda de autoestima
e de autoconfiança que podem levar a níveis impulsionadores, por exemplo, de grandes graus de ansiedade e até a eventuais
comportamentos de adição.
As consequências negativas para a saúde do assédio
moral podem envolver sintomatologia somática e psicológica. Para além de serem
frequentes as cefaleias, as alterações
gastro-intestinais e as repercussões sobre o aparelho cardio-vascular os
sintomas de atingimento da saúde mental são igualmente muito frequentes e vão
desde as alterações do sono, a dificuldade de concentração e a perda de
confiança até à ocorrência de pensamentos suicidários,
agressividade e sintomas paranóides, depressivos e obsessivos.
Apesar
da extrema complexidade de qualquer situação concreta, no assédio moral existe sempre
um determinado contexto (profissional),
um assediador e um assediado. O médico
do trabalho, no âmbito da sua actividade na prevenção dos riscos profissionais (que
deve incluir também a colaboração na prevenção dessas situações de “violência
psicológica) pode (e deve) ser um potencial “apoio” para o assediado se a sua
colaboração em acções de prevenção não tiver sido eficaz na sua prevenção.
A sua resposta é, no entanto, ainda mais
transdisciplinar e mais dependente da respectiva cultura organizacional onde se
deve situar a mais importante (e principal) resposta a tal tipo de situações.
Nota: Publicado, inicialmente, em Healthnews.