Os factores de risco profissionais de natureza psicossocial têm vindo a adquirir uma importância crescente e a ter
uma maior visibilidade como causa de riscos profissionais, designadamente em profissionais de saúde, e associados a aspectos relacionados com as condições de trabalho ou com a actividade. Por exemplo, nos profissionais de saúde, em 2022,
foram registados na plataforma da Direcção-Geral da Saúde (DGS) quase o dobro
dos episódios de violência (relativos quer a 2020, quer a 2021) a que médico(a)s, enfermeiro(a)s e outros profissionais de saúde podem ser vítimas.
Estarão, de facto, a aumentar esses casos ou esses episódios continuam
a aumentar devido ao aumento da sua notificação?
Os factores de risco profissionais estão, essencialmente, relacionados com a
actividade de trabalho inerente à prática profissional e menos com as condições (ou condicionantes) de trabalho.
Um nosso recente estudo num grande hospital em Lisboa,
observacional e transversal, revelou uma insuficiência de respostas
organizacionais adequadas num contexto de livre acesso a zonas de trabalho e ainda
a uma insuficiente protecção por agentes de segurança. Tais condicionantes, diga-se
em abono da verdade, têm melhorado nos últimos anos, assim como a formação e
informação dos profissionais de saúde sobre atitudes e comportamentos a
adoptar tem vindo a ser realizada.
Aparentemente, a pouca familiaridade com os procedimentos
internos de notificação então identificada (anterior a 2020) foi caracterizada como área carenciada de melhoria,
bem como a pouca expressividade das estratégias intervencionistas direcionadas a
incrementar essas melhorias. Daí para cá tais aspectos têm vindo a ser melhorados.
O
Observatório Nacional da Violência Contra os Profissionais de Saúde no Local de
Trabalho, desenvolvido pela DGS, há poucos anos, com o objetivo de disponibilizar
um sistema de notificação online dos episódios de violência, bem como a divulgação
de documentação e instrumentos de referência e a partilha de boas práticas tem sido,
por certo, muito útil. Adicionalmente, tem contribuido, por certo, para uma maior visibilidade e para a discussão pública de acontecimentos que, qualquer que seja a perspectiva, são totalmente reprováveis e dificilmente encontrarão qualquer explicação que possa tornar tolerável o que, de facto, é totalmente inaceitável.
Apesar
disso, estaremos a fazer o suficiente nesse domínio?
Será
suficiente o pouco que se tem feito na população em geral para melhorar a
gestão desse risco?
Serão
suficientes os elementos potenciadores de sinais de alerta nessas
circunstâncias e o aumento da componente intimidatória da intervenção
repressiva potencial?
Será suficiente a componente observacional desses episódios?
Esses
riscos profissionais terão a gestão que o aumento referido deveria determinar?
Não
se deveriam potenciar as medidas de protecção colectiva em relação às medidas
de protecção individual?
É
que factores de risco, como por exemplo a acessibilidade ou o tempo para atendimento, aumentam, sem quaisquer dúvidas, esse risco, e alguma intervenção também a esse nível poderia, provavelmente, aumentar a eficácia das medidas de protecção
individual baseadas na formação e informação desses profissionais. É bom recordar que as medidas de protecção colectiva devem ser sistematicamente preferidas relativamente às medidas de protecção individual.
Bibliografia
- Antão H, Sacadura-Leite E, Manzano M, Pinote S, Relvas R, Serranheira F, Sousa-Uva A. Workplace Violence in Healthcare: A Single-Center Study on Causes, Consequences and Prevention Strategies. Acta Médica Portuguesa. 2020;33(1):31-37.
- Portugal. Ministério da Saúde. Direção-Geral da Saúde. Programa Nacional de Prevenção da Violência no Ciclo de Vida. Plano de Ação para a Prevenção da Violência no Setor da Saúde. Disponível em: https://www.dgs.pt/documentos-em-discussao-publica/plano-de-acao-para-a-prevencao-da-violencia-no-setor-da-saude-pdf.aspx (consultado em 03/03/23).
Nota: Publicado inicialmente na revista Healthnews - jornalismo de saúde.